Elivaldo,
com seus 29 anos, é bem mais jovem do que Edna. Um ótimo interlocutor de voz
grave que um dia sonhou em ser repórter, mas que hoje- diz ele- pensaria em ser
biólogo. Sua profissão, contudo, é a de eletricista graças a sua formação no
Senai. Sente muita falta de exercer o ofício e sobre isso comentou: “sinto
falta do meu alicate, do meu voltímetro, do meu amperímetro.” Segundo ele, o
que falta para o morador de rua é oportunidade. É o que a maioria realmente quer,
e não esmola. “Nem todo mundo que tá na rua…muito pelo contrário…é uma minoria
que é ignorante.” Disse ter conhecido uma sem-teto que é advogada e, antes de
dormir nas praças públicas, trabalhava como intérprete e com contratos
internacionais.
Elivaldo cresceu
em uma grande família com a infelicidade de ter perdido a mãe aos seis anos,
fazendo com que o pai criasse sozinho suas cinco filhas e seu filho. Por ser o
único homem entre as irmãs, diz que sempre sentia o maior peso da
responsabilidade e se lamentava por não ter cumprido seu papel.
Questionei
sobre seus desejos e, lembrando da infância, disse que gostaria de ter
convivido com a mãe e que um dia pudesse retribuir o carinho do pai. Nesse momento,
Edna nos interrompeu:
“Agora posso
fazer uma pergunta pra ele?”
“Pode, pode
sim.”- assenti.
Virou-se para Elivaldo e começou:
“E qual seria
uma ação e gesto que você daria, assim, para o seu pai…ééé…pra ele ter um…uma
alegria no coração e falar assim: ‘não, esse é o meu filho!!!’?”
“Ter a
responsabilidade de ter um trabalho, uma casa e uma família bonita (…) Eu tenho
a certeza que a maior alegria dele é me ver bem.”- respondeu Elivaldo.
Em seguida,
quis saber do seu conselho.
“Por mais que
seja seu melhor amigo…e te oferecer uma droga…não se deixe influenciar, porque
é um caminho difícil. Eu gostaria de voltar aos meus 17 anos…”
Mas isso não
era motivo para se deixar levar pela vida, e inspirado pela frase de Norman
Vincent Peale, justificou: “o covarde…ele nunca começa. O fracassado nunca
termina. E o vencedor nunca desiste. E eu peguei essa frase pra mim porque eu
nunca desisti.”
Ao demonstrar
sua religiosidade e seus conhecimentos bíblicos, fiquei curioso para saber o
que ele pensava sobre as pessoas e seus erros. Perguntei-lhe se acreditava que
alguém deveria ser condenado pelo resto da vida por um erro grave e se o lado
negativo de alguém ofuscaria seu lado bom.
“O julgamento
humano gera injustiça.”- disse. A partir daí percorreu as várias faces do perdão e das ações humanas de acordo com os
ensinamentos de Cristo e do apostolo Paulo. “Perdoar para ser perdoado.” “O
perdão faz bem pra quem perdoa.” “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.” E
tantos outros…
Afinal, qual
será o significado oculto do perdão?